A Lição do Perdão

      Certo dia, o mestre recebeu a visita de um homem que andava deprimido.O sábio convidou-o a sentar-se e pôs -se ao ouví-lo enquanto lhes servia chá:
      – Mestre, minhas lembranças me revoltam. A todo momento me lembro do mal que já me fizeram e isso me abala. Por vezes fico triste. Outras vezes furioso…
      Sem sequer piscar, o mestre lhe respondeu:
      – Perdoe e esqueça.
      A feição do homem mudou:
      -Senhor, não sou feito de pedra! Como pode dar um conselho assim para alguém como eu, que passou por tudo que já passei? Estou por demais magoado e ferido para ser capaz de simplesmente “perdoar e esquecer”. Para o senhor pode parecer fácil, pois vive aqui na montanha meditando… Mas eu ainda sou humano!
      O mestre olhou para o chá. Bebeu um gole e disse:
      – Nesse caso, você tem outra opção: não perdoe e não esqueça. Mantenha vívido cada detalhe tormentoso do passado. Fale sobre o problema. Sonhe com ele, até que isso te impeça de dormir e tenha que tomar remédios para não virar um zumbi por falta de sono. Chore bastante e sinta pena de si mesmo. Perca peso e apareça perante seus amigos com uma aparência pálida e abatida, para que eles se preocupem com você. Ligue para todos afim de desabafar, até que ninguém mais te atenda. Tome a palavra em toda roda social que encontrar e interrompa os assuntos alegres que os outros estiverem conversando, para divulgar o quanto é infeliz e injustiçado. Você pode também desenvolver uma úlcera, uma enxaqueca, lesar o joelho… Qualquer coisa que cause dor e o ajude a lembrar-se de tudo que aquele monstro ou monstra fez a você. Se achar esse conselho mais coerente e preferir seguí-lo, esteja certo de que terminará miserável, doente, amargurado e só.

lição do perdãoMuito ouvimos falar sobre o perdão aonde quer que busquemos orientação espiritual. Porém, quanto o praticamos?
Jesus já dizia, que não só sete vezes deveríamos perdoar um irmão, mas até setenta vezes sete.
Perdoar 490 vezes pode parecer uma utopia para nós, cujo primeiro perdão já parece um sacrifício.

Essa era mais uma metáfora de Jesus.  Metáfora essa, que Mahatma Gandhi compreendeu profundamente.
Após violência, opressão de seu povo, prisão e maus tratos, uma vez lhe perguntaram: “Gandhi, você consegue perdoar aqueles que oprimiram à Índia e a você de maneira tão dura?”. E ele respondeu: “não tenho a quem perdoar, porque a mim, ninguém ofendeu”.
Esse é um bom exemplo de estado de paz interior a se almejar e construir: a não-ofendibilidade.
Mas como não se sentir ofendido quando, por dentro, o que realmente se quer é a vingança?

Talvez nossa verdadeira função na vida seja a de perdoar…
Já parou para refletir sobre isso? O perdão é uma atitude que vai muito além do que imaginamos, pois as transformações que ocorrem na vida de quem o pratica e busca compreendê-lo, atingem exatamente todas as áreas da vida.
Pode ser muito difícil perdoar quando existe ainda uma idéia contrária à consciência una. A ideia de que somos separados uns dos outos.
Essa ilusão de separação nos faz condenar ao próximo e vê-lo como opressor e carrasco.
Porém, se enxergarmos que somos todos um só, veremos que não condenamos a ninguém, a não ser a nós mesmos. Repare que quase sempre, as pessoas que têm mais dificuldade de perdoar aos erros de seus semelhantes, são geralmente as pessoas que não perdoam a si mesmas. E sempre estão mal, já percebeu? 

Hoje muito se ouve falar de doenças auto-imunes. Essas, são quadros clínicos que ocorrem quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do corpo por engano. Assim diz a medicina material.
Mas como acha que nascem as doenças auto-imunes se focarmos no que se passa nos pensamentos e sentimentos de tal paciente?
É simples: basta cair na armadilha de não perdoar. Basta manter uma condenação para com alguém que lhe decepcionou. Isso lhe ensina a não perdoar a nada e a ninguém, e quando em algum momento de sua vida, você falhar duramente, não conseguirá perdoar a si mesmo. Tais doenças de auto-ataque podem surgir para lhe fazer reconhecer que em seus pensamentos, você busca se auto-punir.

Embora consequências assim sejam dolorosas, a função de tudo isso, é a de levá-lo de volta a Deus, ou à consciência una. Toda dor, é um movimento do universo para lhe fazer o bem.
Em Deus, onde somos todos um, não há separação. Logo, não seria prudente que houvesse julgamento ou condenação em tal união. Condenar ao outro torna-se visivelmente um golpe contra si mesmo.

Portanto, perdoemos enquanto podemos fazer essa escolha por bem. Pois quando tivermos que fazê-la por mal, poderá ser tarde demais.

Acácio

Publicado em 2 de agosto de 2014, em Artigos e marcado como , , , . Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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