O que podemos alcançar através de nossa observação?

Já lhe ocorreu que, para conseguirmos ver nossa própria imagem, precisamos de um espelho? Que então o que vemos, através do espelho, é apenas um reflexo? E que, muitas vezes, não conseguimos captar quem realmente somos, porque, ao olhar diante de um espelho, imediatamente nos tornamos conscientes de nossa própria observação e perdemos a espontaneidade?

Levando isso à nossa outra realidade, além da física, nos perguntamos: seráespelho que possuímos algum espelho capaz de mostrar o que habita os recônditos da nossa alma? Nunca nos foi ensinado a olhar para dentro… Com base nisso, fica a questão: será que tudo o que vemos e as pessoas com as quais convivemos não funcionam como um espelho? Não seria outra forma de identificar o que há de nós mesmos em tudo que nos rodeia?

Compreendemos que o convívio humano é uma maneira de identificar o próprio reflexo e uma oportunidade de melhorar a cada dia. Se as pessoas que aparecem na nossa vida não aparecem por acaso, é porque existe um motivo para encontrarmos e convivermos com elas. Se estivermos abertos para isso, estas pessoas irão nos ensinar a melhorar onde mais podemos falhar. O aprendizado é mútuo, mas precisamos estar atentos aos sinais.

Certa vez nos foi ensinado que, se identificamos o mal em outra pessoa, é porque o mal está dentro de nós mesmos.

Em contrapartida, também ouvimos de uma psicóloga que, quando alguma característica de alguma pessoa nos incomoda de maneira especial, isso nem sempre quer dizer que é porque temos essa característica dentro de nós mesmos. Isso pode ocorrer pelo fato de que atraímos pessoas com características opostas às nossas, para que alcancemos um equilíbrio. A natureza está sempre em busca de equilíbrio. Por isso, muitas vezes, personalidades opostas, porém complementares, se encontram e convivem em harmonia.

Foi refletindo sobre estes assuntos que decidimos escrever esse artigo.

Diante destes conceitos, pensamos o seguinte:

Muitas vezes olhamos para as pessoas à nossa volta e identificamos uma deficiência e nos é tão claro que ela está equivocada! Olhamos para ela e pensamos: “não sou assim!”. Porém, será que não travamos grandes batalhas internas diárias justamente para não nos sentirmos assim? Será que, ao identificar tal deficiência no outro, não identificamos a mesma deficiência ou, ao menos, uma sombra desta, dentro de nós mesmos e, por isso, lutamos tanto para sermos diferentes? Por exemplo, quando falamos: “Não quero sentir raiva!”; isso significa que o sentimento de raiva já está lá dentro de nós. Se não estivesse, não teríamos verbalizado o desejo de eliminar esse sentimento.

Talvez essas pessoas apareçam em nossas vidas para nos recordar de que a nossa batalha interna é contínua. E a nossa observação se faz essencial, pois nos permite estar atentos e renovar as forças para as novas batalhas que virão.

É provável que, apesar de nossa observação constante, esses pontos ainda não estejam muito firmados dentro da gente. Isso significa que podemos escorregar neles e repetir as atitudes que não gostamos. Então, através dessas pessoas, vamos detectando onde a batalha precisa continuar para que o aprendizado seja fixado. Reconhecemos que somos e em quais situações somos falhos, mas isso não quer dizer que estamos imunes de errar outras vezes nesses pontos.

Por exemplo, o ladrão vem para nos ensinar o desapego. Os filhos nos ensinam a ser tolerantes. Ou seja, ao ver um ladrão agindo, mais que mostrar que há um ladrão em nós (e há), pode nos ensinar a prática do desapego, pois damos importância demais às coisas materiais. As pessoas ansiosas e aflitas nos ensinam a manter a paciência e a confiar. As pessoas que se vitimizam nos ensinam a evitar projetar nossos problemas nos outros, e que tudo que sentimos é resultado do que somos e pensamos.

Por outro lado, existe também a questão do observador. Somos todos observadores, e temos aprendido que o papel do observador é fundamental no processo da realidade.

O livro Um Curso em Milagres diz que o observador reforça no outro as “qualidades” que estão sendo observadas. Ou seja, o fato de observarmos determinada deficiência em alguma pessoa reforça nela essa mesma deficiência. Da mesma forma, quando observamos uma virtude em alguém, reforçamos nela essa virtude.

E qual é a nossa busca? O que, de fato, nos move? Buscamos constantemente nos harmonizar e “entregar o controle” ao Divino que habita em cada um de nós. Ao percebermos em nós o Divino, o próximo passo é estender esse conceito aos nossos irmãos. Assim, a pessoa que observamos e julgamos equivocada é uma pessoa divina, perfeita, pois o Divino que há em nós há nela também (Somos todos Um). Ao observar nela o Divino, passamos a reforçar nela essa qualidade divina. Obviamente algumas pessoas vivem um processo de não entender, conhecer ou observar isso. Mas é um processo, e cada pessoa tem seu tempo e, uma vez que o tempo não existe, é então algo irrelevante.

Enquanto buscamos o Divino dentro de nós mesmos, devemos compreender que nossas limitações são, na realidade, as limitações de nosso ego. Focar no Divino significa mudar a observação. Direciono a minha atenção para o divino, tirando a atenção do ego.

Diante disso, uma maneira de ajudar as pessoas seria mudando nossa própria observação. Nesse processo, temos a oportunidade de, por exemplo, ao lidar com uma pessoa vitimizada e que projeta nos outros suas frustrações, reforçar em nós as qualidades opostas, sendo pacientes, amorosos com ela, ainda que as atitudes dela sejam totalmente contra essas qualidades.

É nossa função, como trabalhadores da luz, transformar a realidade em que vivemos. Qual seria uma oportunidade melhor do que com as pessoas do nosso convívio?

Todos já ouvimos falar da dualidade que vive em nós, mas é uma dualidade ilusória. Quando trazemos uma falha de nosso ego à consciência e deixamos de observá-la, nós literalmente acordamos do sonho. Só o bem existe, tudo o mais é ilusão. Enquanto sonhamos, acreditamos que tudo aquilo era real, mas, quando acordamos, percebemos que havia coisas fora do lugar. Esse é o despertar espiritual, perceber que estamos observando errado, que precisamos mudar nosso prisma de observação.

Com isso, fica claro o conceito que já ouvimos tantas vezes: “se queres salvar o mundo, comeces por ti mesmo”. Quando buscamos despertar espiritualmente, reconhecemos o Divino que habita em nós e nossa conduta condiz com esse objetivo maior. A caminhada é para dentro. Buscamos mudar nosso referencial interno para que sejamos capazes de mudar nossa percepção do que está do lado de fora. Se ao observarmos o mundo, o fazemos de acordo com o que possuímos internamente e, considerando que reconhecemos somente o bem, consequentemente nossa visão focará somente no bem. Mudar o nosso interno é a única maneira de mudar o externo. A mudança sempre vem de dentro para fora.

Por isso, ao pensarmos que tal pessoa poderia ser diferente, convidamos a refletir sobre o que poderíamos mudar dentro de nós mesmos para que esse pensamento se torne uma realidade. Ao perdoarmos as outras pessoas, estamos perdoando a nós mesmos.

Escrito por: Juliana Kurokawa e Willian Tello

Publicado em 17 de junho de 2014, em Artigos e marcado como , , , , , , . Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

  1. Ótimo Post, Parabéns…!!!
    😉

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